Todo mundo tem uma história de amor pela internet para contar. Mas não conta; tem vergonha. É coisa de nerd: ficar de pijamão, madrugada afora, com a pupila dilatada, em frente ao computador - teclando e se deixando teclar, por pessoas de origem desconhecida, de procedência absolutamente aleatória, de caráter imprevisível, de histórico pouco confiável. Enfim, é uma loucura. Mas os riscos são mínimos e, por isso, não há quem não tenha tentado. [Ah, só uma tentadinha, vai...]
Independentemente dos envolvidos tomarem coragem e se confessarem, Alice Sampaio escreveu um livro a respeito, intitulado Amor na Internet - Quando o virtual cai na real (Record, 2001, 348 páginas). Na verdade, Alice, jornalista, compilou mais de 15 histórias narrando as venturas e desventuras de quem se lançou nesse mar de possibilidades: os chats, os e-mails, os sites de encontro. Claro, ninguém assume nada, todos estão protegidos por pseudônimos - como é praxe na própria internet, aliás.
O livro de Alice Sampaio compila alguns casos que podem ser divididos em categorias mais ou menos estanques. Por exemplo: há aquele casal de meia idade, marcado por separações ou pela viuvez precoce, que, por insistência dos filhos (internautas), acaba se cadastrando em sites e se encontrando para toda a vida, como que por encanto. Essas pessoas têm, para com a nova mídia, atitudes extremamente conservadoras: abandonam-na tão logo se sentem seguras para se telefonar e se comunicar de outras formas, "menos impessoais" (segundo suas próprias palavras). Claro que essa categoria não busca satisfação momentânea, e sim ligações duradouras, transferindo para a internet a função do footing, do cinema, do passeio na praça, catalisadores da chamada paquera, em épocas pré-cambrianas.
Uma das mais divertidas histórias do livro é, aproposito, e a de uma garota que troca freneticamente de namorado, como troca de roupa ou sapato, num dia de festa em que não se entende com o armário. Comcom outro ra uma facilidade e uma desenvoltura invejáveis; até um pouco estranhas numa mulher (por definição e por convenção, sempre atrás de segurança, estabilidade, futuro garantido, essas coisas). Numa de suas andanças, a conquistadora topa com um sujeito cheio de negócios escusos que - diz o livro - é pago para apagar contraventores ou "procurados". A garota não se abala; afasta-se dele por precaução (mais do que por vontade) e sente sua falta até o fim do relato. Depois se envolve paz, esse de sua idade, que quer insistentemente namorar; ela não quer e invertem-se mais uma vez os papéis (homem-volúvel, mulher-centrada). São, portanto, jogos lúdicos, num estágio de total imaturidade afetiva; mas que, mesmo assim, horrorizaram o profissional que - a pedido de Alice - se põe a analisar o caso.
O fato é que, independentemente do balanço negativo, as pessoas vão continuar se lançando em blind dates, com o primeiro desconhecido simpático que for hábil no uso do vernáculo. Vão continuar se entregando sofregamente nos primeiros encontros. E vão continuar errando, se arrependendo e - quem sabe -, com sorte, acertando, porque é inevitavelmente a lógica do sexo e do amor. Se, de repente, contamos com uma "porta", que se abre da nossa casa (ou da nossa estação de trabalho), na qual podemos anonimamente penetrar (sem riscos, portanto), encontrando um monte de gente interessante (ou nem tanto), por que vamos nos negar essa possibilidade?
Eu conheço muitos casos onde deu certo, por isso continuo acreditando e hoje tenho uma turma de amigos onde eu me sinto como se fosse amigos reais, alias o que seria um amigo real??
Neste Natal tive mais presença virtual que real, nao acredito no acaso, porque seria muita pretensão de minha parte, mas os amigos e o amor virtual que tenho hoje me garante muitas felicidades, amor e risos inacretitaveis com esse grupo que foi formado "por acaso"
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